De acordo com a ACS (Associação de Agricultura Celular), nos EUA, a produção industrial de carne de laboratório deve alcançar larga escala e distribuição global a partir de 2025
Uma nova demanda do universo bovino tem surgido por meio de startups, que captam dinheiro para viabilizar esta iniciativa: criar carne em laboratório em vez de ser no pasto. Portanto, a ideia é sair os fazendeiros e entrarem os bioengenheiros.
A nova tendência já tem até nome: neonívoros, pessoas onívoras, com dieta baseada em carne criada em laboratório.
Carne de laboratório
De acordo com a ACS (Associação de Agricultura Celular), nos EUA, a produção industrial de carne de laboratório deve alcançar larga escala e distribuição global a partir de 2025. Antes deste período é previsto apenas pequenas inserções regionalizadas.
Segundo Kristopher Gasteratos, diretor da ACS, existirá um período futuro chamado de “Renascença Neonívora”. Para ele, no decorrer da década de 2020, a dieta baseada em carne de laboratório deverá aumentar entre 10% e 20% ao ano, podendo alcançar até 70% do market share nos países pioneiros. Ele ressalta em um manifesto da empresa:
“O desenvolvimento da carne em larga escala, enfrenta os mesmos obstáculos que os carros autônomos: pesquisa e desenvolvimento, aceitação do consumidor e regulação. Acredito que o desenvolvimento, que está diretamente atrelado ao custo, deve ser um gargalo mais importante do que a regulamentação.”
Startups
Querendo seu lugar ao sol nesta empreitada, muitas startups estão em fase de levantamento de fundos para viabilizar esta larga escala de produção e saírem na frente na disputa pelas prateleiras dos supermercados. Os gastos de produção ainda são bem altos e seu valor final não dá oportunidades de competir com a indústria da carne.
Derivada do projeto da Universidade de Maastricht, a holandesa Mosa Meat apresentou o primeiro hambúrguer de laboratório ao mundo. Com isso, seu levantamento foi de €7,5 milhões (R$ 34 milhões) na sua série A, incluindo um aporte da maior processadora de carne da Suíça, a Bell Foods.
O primeiro burger da Mosa teve custo total de 200 mil euros. Atualmente, ele custa nove, mas ainda sim um valor bem acima de um tradicional. Em 2020, a companhia estima produzir até dez quilos por semana, com escala de 50 kg em dois anos. Outra conterrânea deste setor é a Meatable, que também é pioneira e já captou US$ 10 milhões (R$ 40,6 milhões) em aportes para aperfeiçoar seu processo de produção de carne, que não abate os animais.
Filés de culturas de células
Hoje, a grande maioria da indústria produz filés de culturas de células por meio do soro fetal bovino, um líquido extraído do coração de fetos de vacas abatidas ainda grávidas, uma prática bastante questionada do ponto de vista ético.
Em contrapartida, a Meatable afirma ter criado uma técnica que utiliza células do cordão umbilical de bezerros, que seria descartado pela indústria, sem abater o bebê ou a mãe. A companhia estima que os filés cheguem aos restaurantes holandeses até 2022. Além disso, também pretendem investir na produção de carne de porco de laboratório, visando o mercado chinês.
Marte
Com pensamento bem adiante, mais precisamente no planeta Marte, a empresa israelense Aleph Farms realizou em setembro do ano passado um experimento na Estação Espacial Internacional, onde um bife foi impresso em 3D. A iniciativa é uma parceria com uma companhia russa de bioimpressão. No entanto, o filé espacial não foi ingerido pelos cosmonautas, e sim apenas enviado de volta à Terra para análise. Sobre isso, Didier Toubia, CEO da empresa, disse em comunicado à imprensa:
“No espaço nós não temos 10 mil litros de água para produzir um quilo de carne. Esse experimento é um marco para atingirmos nossa visão de garantir segurança alimentar para as futuras gerações, ao mesmo tempo em que preservamos recursos.”
A Aleph também cultiva células de acordo com o método não-fatal, ao coletar tecido por meio de uma biópsia.
Laboratório – mercado de peixes
E não só a carne que pode ser produzida em laboratório, o mercado de peixes também pode seguir esta linha. A companhia americana Finless levantou US$ 3,5 milhões (R$ 14,3 milhões) para desenvolver uma alternativa à captura massiva de peixes no mar, um dos principais problemas ambientais do fim do século 20. Ela também participou do experimento espacial com a Aleph, utilizando células-tronco do tecido muscular de peixe, onde uma cultura de células é capaz de se transformar em filés de pescado.
Até o momento, a empresa só obteve uma pasta de peixe, mas pretende, em 15 anos, mitigar a demanda por atum azul, um dos peixes mais cobiçados na culinária oriental, com sushi de laboratório.
Fonte: Folha de Pernambuco
*Foto: Divulgação