Há mais de 100 anos, o procedimento foi na unidade mais antiga da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba
Em 1º de novembro de 1907, ocorreu no Paraná a primeira cirurgia tipo cesariana do estado, a sexta operação desse tipo realizada no Brasil. O procedimento, conduzido pelos cirurgiões João Evangelista Espíndola e Reinaldo Machado, foi realizado no Hospital Santa Casa de Curitiba, unidade mais antiga da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba (ISCMC) e trouxe ao mundo uma criança do sexo feminino.
O procedimento mudou o cenário da saúde materna e neonatal da região sul, oferecendo alternativas para gestantes que não podem passar pelo parto normal devido a questões médicas ou complicações. Casos em que a placenta está presa na parte inferior do útero ou em que há sofrimento fetal podem ser conduzidos adequadamente com o desenvolvimento da cesariana.
Médicos pioneiros
O Dr. João Evangelista Espíndola, natural de São Pedro (RS), se formou pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, atuou como médico da Santa Casa de Curitiba e dirigiu o Hospital de Caridade por quase 20 anos. Também foi deputado estadual e professor da Faculdade de Medicina do Paraná.
Já o Dr. Reinaldo Machado, nascido em São Francisco do Sul em 1868, se formou em Medicina pela mesma instituição de seu colega e chefiou a clínica da Maternidade do Paraná. Ele colaborou na criação da primeira revista médica do Paraná (1901) e foi um dos fundadores da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Paraná, em 1902.
Saúde materna e neonatal no Paraná
Há mais de 170 anos, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba desempenha um papel importante no aperfeiçoamento da medicina no Paraná. Com uma trajetória marcada pelo desenvolvimento da saúde no estado, a instituição preserva em suas paredes centenárias uma estrutura de ponta e profissionais renomados.
Há mais de 20 anos, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba administra o Hospital Maternidade Alto Maracanã (HMAM). Inaugurada em novembro de 2002, a unidade conta com um convênio de cooperação técnico-financeiro entre a instituição e a Prefeitura Municipal de Colombo, no Paraná.
Desde 2002, o HMAM já realizou mais de 60 mil partos, com uma média de 180 por mês, e, há 16 anos, possui o título de Hospital Amigo da Criança.
Números de cesáreas no Brasil
A cesariana é uma operação que realiza o parto cirúrgico do bebê, por meio de uma incisão feita no abdômen e no útero da gestante. A cirurgia também é indicada quando o trabalho de parto está progredindo muito lentamente, quando o feto está em uma posição anormal ou quando ocorre a ruptura prematura da placenta.
No artigo intitulado “As taxas de cesáreas no Brasil de 2017 a 2022: Um estudo ecológico utilizando a Classificação de Robson”, foi publicada uma análise sobre a prevalência de partos cesáreos no Brasil. Nos cinco anos do estudo, constatou-se que 56,6% dos partos realizados no país foram cesarianas.
O estudo também apontou que mais da metade dos partos no Brasil ocorrem por cesariana, superando a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica que apenas 15% dos nascimentos são não naturais — percentual estimado de casos em que o procedimento é realmente necessário.
O Brasil é o segundo país com maior número de cesáreas. Apesar dos riscos, o procedimento pode salvar vidas. No entanto, esses números revelam uma tendência de escolha desnecessária, especialmente nos casos em que não há risco de vida para a gestante e o bebê. O procedimento acaba sendo realizado em excesso, prejudicando pacientes que realmente necessitam da cesariana.
Dados de 2022, divulgados pelo Ministério da Saúde, indicam que, anualmente, ocorrem cerca de três milhões de partos no Brasil, dos quais 1,68 milhão são cesarianas. Dentre estas, aproximadamente 870 mil são realizadas sem uma real necessidade cirúrgica.
Recomendação médica da cesariana
O documento “Diretrizes de Atenção à Gestante: a operação cesariana”, aprovado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) e publicado oficialmente pelo Ministério da Saúde em 2016, apresenta recomendações para orientar profissionais de saúde e gestantes sobre a cesariana.
O material busca melhorar a qualidade da assistência à gestante e reduzir as cesarianas desnecessárias, promovendo o diálogo entre pacientes e médicos. Nele, é indicado que a cirurgia programada seja realizada apenas em casos específicos, quando a gestante e o bebê estiverem em risco.
Independentemente da via de parto, a comunidade médica orienta que o atendimento humanizado seja priorizado, incentivando o contato pele a pele e a amamentação após o nascimento. Inclusive, essa é uma recomendação seguida pelo HMAM para garantir o selo ‘Amigo da Criança’. A maternidade, gerida pela ISCMC, orienta também que não sejam utilizadas mamadeiras e chupetas nas dependências da unidade.
Fotos: Acervo Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba