O sistema é parte do projeto Vigilância Ambiental e Saúde Indígena e surgiu a partir da parceria entre o Ministério da Saúde e o Hospital Albert Einstein
De acordo com o Censo Demográfico de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 69,12% dos povos indígenas viviam em domicílios com ausência de saneamento básico ou pelo menos uma situação de precariedade. São pelo menos 1,1 milhão de pessoas vivendo sem abastecimento de água, coleta de lixo ou tratamento de esgoto.
Além desses dados, o Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) mostrou, em levantamento realizado entre 2018 e 2022, que a taxa de mortalidade infantil entre as comunidades indígenas foi maior do que a média de casos registrados entre crianças de outras regiões.
Sobre a plataforma de monitoramento
Para monitorar esse cenário e melhorar a saúde indígena no Brasil, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) se uniu ao Ministério da Saúde e ao Hospital Israelita Albert Einstein para desenvolver uma plataforma que vai coletar dados e servir de base para realizar análises de solo e água.
Dessa forma, serão identificados fatores ambientais que podem ser combatidos, reduzindo a incidência de doenças e o índice de mortalidade infantil.
A plataforma faz parte do Projeto Vigilância Ambiental e Saúde Indígena, desenvolvido em parceria com o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), e tem previsão de lançamento em 2026. O seu principal objetivo é coletar, integrar e armazenar dados sobre a saúde dos povos indígenas.
O sistema irá realizar a análise territorial em aproximadamente 40 comunidades indígenas da Amazônia Legal, selecionadas com base em critérios como a taxa de mortalidade infantil e a ocorrência de doenças diarreicas agudas. A investigação incluirá testes em amostras de água e solo, visando identificar possíveis causas de problemas de saúde.
Atualmente, os profissionais de saúde são responsáveis pela coleta desses dados. Contudo, as informações relacionadas a saneamento, vigilância ambiental, características territoriais e resíduos sólidos são armazenadas em planilhas de Excel, um formato que apresenta limitações para análise, devido ao grande volume de dados e à ausência de integração com as plataformas do Ministério da Saúde.
Entenda a saúde indígena no Brasil
No Brasil, o subsistema de saúde indígena, parte do SUS e administrado pela Sesai, oferece atendimento de qualidade que respeita as práticas tradicionais dos povos indígenas, além de garantir infraestrutura e profissionais capacitados para atuar em áreas remotas.
Além da iniciativa do Ministério da Saúde, a Organização Social Pró-Saúde também se dedica à gestão de hospitais adaptados para receber as comunidades indígenas. A entidade filantrópica gerencia o Hospital Bom Pastor, em Guajará-Mirim (RO), e implementa ações de atendimento humanizado na região amazônica.
O hospital, adaptado para atender cerca de 6 mil indígenas, possui parceria com as Casas de Apoio à Saúde Indígena (CASAIS), atendendo 50 aldeias e realizando partos em cidades fronteiriças.
Desafios da saúde indígena
Os povos indígenas mantêm uma relação de harmonia com a natureza, sendo o vínculo com seus territórios um elemento essencial de sua identidade. Entretanto, a exploração dessas áreas para fins comerciais tem impactado a infraestrutura local e favorecido a disseminação de doenças, aumentando a vulnerabilidade dessas populações.
Além disso, o acesso limitado a regiões remotas, somado às barreiras culturais e linguísticas, dificulta a oferta de serviços de saúde a essas comunidades. Questões como a contaminação da água e a ausência de saneamento básico ocasionam doenças que poderiam ser evitadas, indicando a importância de ações de monitoramento e prevenção.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil