Vinhos sustentáveis diz respeito à produção com o mínimo de impacto ambiental
O setor de vinhos mundial vem se preocupando cada vez mais com uma produção mais sustentável. Ou seja, que tenha o mínimo de impacto ambiental.
Vinhos sustentáveis no Brasil
No entanto, apesar de ser novo neste mercado de vinhos sustentáveis, o Brasil já está à frente de países tradicionais. Portanto, isso pode ser um grande diferencial para a produção nacional, com expansão do uso das cultivares desenvolvidas pelo “Programa de Melhoramento Genético Uvas do Brasil”, coordenado pela Embrapa.
De acordo com Marcos Botton, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Uva e Vinho:
“O desenvolvimento de cultivares de uvas para processamento pela Embrapa, adaptadas ao clima e solo do Brasil, resistentes a importantes doenças e que produzem uvas de elevado potencial enológico é um diferencial que poderá ser cada vez mais explorado pelos produtores brasileiros e apreciado pelos consumidores.”
Desde a sua criação em 1977, o Programa de Melhoramento da Embrapa tem atuado para disponibilizar cultivares competitivas no mercado, com o objetivo de agregar valor aos produtos e renda para os produtores.
Destaques do Programa
Além disso, o Programa já lançou 20 cultivares com destaque para as uvas para elaboração de vinhos ‘Moscato Embrapa’, ‘BRS Lorena’, ‘BRS Margot’ e mais recentemente a ‘BRS Bibiana’, que remetem aos produtos elaborados com uvas européias. E ainda há cultivares como a ‘BRS Magna’, que agregam valor aos produtos elaborados com as tradicionais Isabel e Bordô.
Botton ressalta aqui que a disponibilidade dessa genética, desenvolvida em solo brasileiro, é uma oportunidade para a elaboração de vinhos alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), foco dos tradicionais países produtores, visando promover a biodiversidade, a conservação do solo e a redução do uso de produtos químicos, além de contribuir para a gestão de energia, água e resíduos.
Já na opinião do especialista em vinho, Luciano Mestrich Motta, o mercado de vinhos no país cresce cada vez mais. Ele ressalta que nos últimos anos, o setor nacional passou por uma verdadeira revolução, com um aumento expressivo na demanda por vinhos de qualidade – tanto nacionais quanto internacionais.
“O paladar dos consumidores brasileiros tem se tornado mais sofisticado e exigente, buscando vinhos que ofereçam uma experiência sensorial única e reflitam a diversidade de estilos e terroirs do mundo vitivinícola.”
Gênero Vitis
De acordo com a pesquisadora Patrícia Ritschel, uma das coordenadoras do Programa de Melhoramento Genético da Embrapa, os cruzamentos envolvem espécies do gênero Vitis originando cultivares híbridas.
“O objetivo é reunir o máximo de características desejáveis, como elevado potencial enológico e resistência a doenças, numa só planta, permitindo a elaboração de vinhos de qualidade, com menos custos e impactos ambientais reduzidos.”
Panorama da Vitivinicultura Brasileira
Na última edição do Panorama da Vitivinicultura Brasileira, produzido pelos pesquisadores Loiva Ribeiro de Mello e Carlos Ely Machado, em 2021, no Rio Grande do Sul, os dados foram os seguintes: 173,90 milhões de litros de vinhos de mesa, a partir de uvas americanas ou híbridas, e 43,47 milhões de vinhos finos, elaborados com uvas V. vinifera.
Por outro lado, em relação à comercialização, em 2021 na categoria de vinhos de mesa foram comercializados 210,01 milhões de litros. Nos vinhos finos foram comercializados 27,08 milhões de litros, com aumento de 11,39% em relação ao ano de 2021, acrescenta Botton.
“Dentro desta perspectiva, acreditamos que temos um grande espaço para ampliar ainda mais a produção dos vinhos de mesa no Brasil, com o uso das cultivares desenvolvidas pela Embrapa e garantir a expansão dos vinhos sustentáveis.”
As uvas híbridas pelo mundo
Alinhada à temática do Congresso Internacional da Cachaça e do Vinho, que é a “Disrupção e Transformação no Ambiente da Gestão Empresarial”, a utilização das cultivares resistentes ou híbridas vem ganhando espaço em tradicionais regiões produtoras. Essas cultivares foram desenvolvidas principalmente para serem uma alternativa frente às mudanças climáticas e com menor necessidade de intervenção com produtos químicos, buscando uma viticultura sustentável.
Um exemplo recente foi a aprovação, em fevereiro de 2022, pelo Institut National de l’Origine et de la Qualité (INAO) da solicitação do Comité interprofessionnel du Vin de Champagne (CIVC) para a utilização da uva ‘Voltis’ nos cortes de espumantes elaborados na Champagne. Desde então, essa uva híbrida poderá ser utilizada dentro do limite máximo de 5% da área plantada e de 10% do blend, em um período preliminar de cinco anos.
Denominação de Origem
Esta será a primeira vez que uma Denominação de Origem de grande destaque dá o direito de incluir uma variedade híbrida em seus cortes, sem que eles percam a classificação de origem controlada. Vale lembrar que antes o uso de uvas híbridas era permitido apenas em regiões com Indicação Geográfica.
No Brasil, além da iniciativa liderada pela Embrapa, o Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, lançou em 2021 a cultivar branca para vinho IAC Ribas, que apresenta boa adaptabilidade às condições de cultivo, produtividade e qualidade da uva e do vinho, com fruto do trabalho do Programa de Melhoramento Genético da Videira do IAC.
*Foto: Reprodução/Unsplash (Kym Ellis – unsplash.com/pt-br/fotografias/aF1NPSnDQLw)