De acordo com dados revelados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, a exportação brasileira de itens primários para a Europa aumentou 69,8% entre 2019 e 2022. Nesse período, houve o aumento no embarque de petróleo, café e grãos, porém, aconteceu uma queda na exportação de itens tecnológicos, como aeronaves e turbinas. Segundo especialistas, esse cenário pode ser um reflexo do conflito entre Estados Unidos e China, do período pós-pandêmico e da guerra na Ucrânia.
A situação da exportação nacional para a União Europeia também se revela graças a reprimarização, processo no qual as exportações de produtos primários (recursos cultivados ou extraídos da natureza) passaram a superar as de produtos manufaturados (fabricados em série).
Entre janeiro e maio deste ano, a parcela de exportação de produtos primários da agropecuária, florestais e da indústria extrativa para a Europa atingiu 47,7%. E, na mesma época, os produtos manufaturados de alta e média tecnologia tiveram uma redução no embarque de 17,1% em 2019 para 10,8% em 2023.
A tendência do desempenho anual também é a mesma. Em 2022, do total de produtos comprados pela União Europeia, 50,9% representam produtos primários, já os itens manufaturados caíram de 16,8% em 2019 para 9,4% em 2022. Esse cenário é um reflexo do aumento na exportação de produtos das indústrias agrícolas e metálicas para a China e demais países asiáticos. Nos primeiros cinco meses de 2019, a exportação total brasileira para a União Europeia chegou a 42,2%, aumentando para 48,5% no mesmo período deste ano.
Para entender melhor esse cenário, conversamos com o consultor e presidente do conselho administrativo de grandes empresas, Ernesto Heinzelmann. De acordo com ele, muito se fala sobre a baixa competitividade da indústria brasileira, porém, é pouco debatida a resolução de problemas primários, como o investimento na educação. “Raras vezes se vê uma abordagem mais profunda buscando a causa raiz dos nossos problemas: a qualidade da educação das nossas crianças e jovens, que logo entrarão no mercado de trabalho e que alimentarão, novamente, este círculo vicioso no qual nos encontramos.”.
A raíz do problema: segundo Ernesto Heinzelmann
O “gap” no desenvolvimento do sistema educacional brasileiro é um fator crítico que reflete diretamente na economia do país. “Podemos olhar para exemplos bem mais recentes e que tinham uma renda per capita e desenvolvimento similar ou inferior ao Brasil, há algumas décadas. Coreia do Sul e China são casos típicos que poderiam nos servir de exemplo. O forte investimento em educação nestes países trouxe progresso, desenvolvimento social e cultural, domínio tecnológico em disciplinas muito complexas, clara noção da importância da qualidade e produtividade em tudo que se faz, e o despertar da cidadania e do bem coletivo.”, completou Ernesto Heinzelmann.
Ainda segundo ele, não há sinais de que estamos em busca de mudar esse cenário. “Forte investimento não se limita a muito dinheiro, isto temos feito, mas sim na qualidade do ensino como valor fundamental. Fazer bem feito não é mais caro, principalmente na educação e nisto pecamos miseravelmente. As escolas que estão aí, portanto ensinando, o fazem em geral muito mal, com baixa qualidade, e formando analfabetos funcionais. Não é questão de dinheiro apenas.”, reforçou
O efeito dos conflitos na exportação nacional
A disputa econômica entre Estados Unidos e China, evidenciada em 2018, influenciou na busca de diversificação no fornecimento de commodities. Processo este, intensificado também pela crise sanitária que resultou no aumento das cotações de produtos exportados pelo Brasil, como o minério de ferro.
Além disso, o conflito entre Rússia e Ucrânia levou países do leste europeu a buscarem por alternativas no fornecimento de alimentos e energia, para reduzir a dependência russa. Em contrapartida, houve uma perda nos embarques de produtos da indústria doméstica.
Em 2022, a exportação brasileira para a União Europeia chegou a US$ 50,89 bilhões, 39,3% a mais do total exportado em 2021 e 69,8% acima do valor apresentado em 2019. No topo dos embarques para o bloco europeu, estão o petróleo bruto, totalizando US$ 9,2 bilhões no ano passado, soja e farelo totalizaram juntos US$ 8,8 bilhões, no mesmo ano o envio de café cresceu 97% e milho 165%. Vale lembrar, que em 2022, o Brasil foi o terceiro maior fornecedor de petróleo para a Espanha e o primeiro na exportação de milho e soja.
Entre 2019 e 2023 o envio de itens manufaturados como helicópteros e pequenos aviões caiu de US$ 486 milhões para US$ 266 milhões. E os turborreatores e turbopropulsores caíram, respectivamente, da 13ª e 17ª posição para o 22ª e 62ª lugares em 2022.
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