Cultivos diferentes não são apenas privilégio da zona rural, as áreas urbanas também podem conquistar este feito. Prova disso é que a técnica de hidroponia tem sido difundida em grandes centros urbanos. É o que conta o produtor Márcio Antônio Pereira, de Goiânia. Atualmente, ele cultiva hortaliças sem depender da utilização do solo, que é a principal premissa da técnica. Todavia, ela ainda é pouco difundida no estado, mas pode ser bastante rentável.
Como funciona o sistema de hidroponia
O sistema de hidroponia é implantado a partir de estufas fechadas. No caso do produtor Márcio, suas hortaliças não têm contato com a terra. Neste caso, as plantas são apoiadas e crescem em calhas ou tubos plásticos, por onde é bombeada uma solução nutritiva que alimenta as raízes. Sobre isso, Oldoen Emiliano, engenheiro agrônomo da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), explica:
“A água com micronutrientes percorre na tubulação, onde existem orifícios para colocar as mudas. O líquido substitui a sustentação do solo para o desenvolvimento dos vegetais.”
Outros cultivos
Além das hortaliças, a propriedade de Márcio, situada no Jardim Curitiba, região Noroeste de Goiânia, existem os seguintes cultivos: alface, coentro, agrião, salsa, hortelã e rúcula. Elas ficam em três estufas, e comportam seis mil mudas cada. De acordo com o produtor, seus perfis (suporte para as mudas), fabricados em PVC, raramente ficam vazios. Ou seja, ele mantém o ciclo produtivo sempre ativo.
Ele revela que a hidroponia tem garantido um acréscimo em torno de 30% no volume de produção. Isso porque o fornecimento constante de nutrientes para a raiz por meio da solução faz com que a planta se desenvolva de modo mais rápido.
Avanço da hidroponia no Brasil
Contudo, o avanço da técnica de hidroponia na agricultura é evidente. Seu cultivo protegido apresentou um percentual de 400% em crescimento mundial, nas últimas décadas. Tal afirmação consta do Anuário Brasil Hidroponia, publicado pela Plataforma Hidroponia.
Por aqui, a técnica tem conquistado seu espaço, com produção equivalente a 45% do fornecimento de folhosas. Isso compreende ainda uma extensão de 25 mil a 35 mil hectares.
Benefícios do cultivo sem solo
Ainda segundo o engenheiro da Emater, o cultivo sem solo traz diversos benefícios. Entre eles: melhor aproveitamento de insumos, colheita precoce e baixo consumo de água.
Na pratica, o plantio de uma alface de 400 gramas, com ciclo de 42 dias, em sistema convencional calcula-se o consumo de 13 mil a 16 mil litros de água. Por outro lado, em um cultivo hidropônico, estima-se um gasto de dois a três mil litros, apenas.
Além disso, a hidroponia independe de condições climáticas naturais. Ou seja, altas temperaturas e fortes chuvas dificilmente vão impactar a produção.
Investimento
Todavia, é preciso ter cautela ao investir no sistema de hidroponia, pois ele possui um alto custo no início. Isso porque ele necessita de infraestrutura, como: terraplanagens, construção de estufas, mesas, bancadas, sistemas hidráulicos e elétricos.
Márcio também alerta sobre a questão do manejo:
“Na hidroponia, o fornecimento de energia, necessária para o bombeamento dos nutrientes, é um ponto crucial. Se falta energia durante, por exemplo, menos de uma hora, toda a produção fica comprometida, pois as raízes são muito finas e sensíveis.”
Ele reforça que é essencial se especializar nesta técnica por meio de cursos de capacitação antes de começar a investir. Sendo assim, este modelo de cultivo requer conhecimentos técnicos e também noções básicas sobre fisiologia vegetal.
Por fim, Márcio conta que antes de seu sistema de hidroponia dar certo, ele perdeu três safras:
“Em Goiás, a hidroponia ainda está se desenvolvendo. Na época, busquei ajuda da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], estudei e pesquisei bastante sobre o assunto junto a outros produtores hidropônicos. E finalmente aprendi fazendo.”
*Foto: Divulgação