Os pecuaristas brasileiros costumam sofrer para alimentar seus rebanhos durante a seca. As pastagens do país são compostas essencialmente por gramíneas que ficam danificadas em períodos de estiagem. Nesta época há uma redução na qualidade das pastagens pela baixa digestibilidade por parte dos animais, além da queda do valor nutritivo das gramíneas. Com isso em mente, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) estuda uma alternativa para abrandar esta questão. A companhia analisa a possibilidade de utilizar a leguminosa cratília (Cratylia argêntea) junto à pastagem de braquiária sob sequeiro.
Leguminosa cratília
O principal objetivo desse estudo é encontrar alternativas capazes de integrar o sistema o sistema de alimentação de rebanhos bovinos durante a seca.
A leguminosa cratília também é conhecida como camaratuba e demonstra boa adaptação em solos ácidos, alta tolerância à seca e grandes produções de forragem durante o ano todo. Ela também possui capacidade elevada de fixação de nitrogênio no solo, o que auxilia na recuperação de pastagens danificadas.
De acordo com Karina Toledo, pesquisadora da EPAMIG, a composição química da leguminosa cratília como forragem apresenta melhor eficácia do que muitas gramíneas em períodos de estiagem. Ela ainda se destaca por ser uma fonte alternativa de proteína, o que corrobora para diminuir as despesas com concentrado, que é o item mais caro na produção animal, afirma Elaine Teixeira, professora universitária que faz parte da equipe da pesquisa:
“O valor nutritivo da cratília está entre os mais altos relatados para leguminosas arbustivas adaptadas a solos ácidos. A proteína bruta varia entre 18% e 30% da matéria seca. Já a digestibilidade in vitro da matéria seca pode chegar a 60 e 65%. Em contraste com muitas outras leguminosas arbustivas tropicais, a cratília contém apenas vestígios de taninos, o que faz com que ela seja indicada tanto para pastagem em consórcio com gramíneas quanto para banco de forragem durante a estação seca.”
Estratégia de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF)
O estudo é mais uma estratégia de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) para inovação da agropecuária do Cerrado mineiro. A pesquisa, realizada no Campo Experimental da EPAMIG de Prudente de Morais, ainda em estágio inicial. No final de janeiro deste ano, ocorreu a implantação de mudas de cratília, com e sem adubação, e plantadas com espaçamento de dois metros entre plantas e ainda intercaladas com uma área de pastagem de braquiária de 25 metros.
Até o momento, as mudas têm apresentado um desenvolvimento vigoroso. Segundo Maria Celuta, pesquisadora da EPAMIG, depois de um ano da fixação da leguminosa cratília, serão introduzidos bovinos, na intenção de avaliar o comportamento de pastejo.
Todo o trabalho é resultado de uma parceria com os pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo, Miguel Marques Neto e Walter José Matrangolo, e com a professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ângela Maria Lana. A EPAMIG é uma empresa vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa).
Fonte: Revista Rural
*Foto: Divulgação