Agronegócio eleva receita e setor deve faturar R$ 728,6 bilhões em 2020, o que equivale a uma alta de 11,8% ante 2019
Neste ano, a agricultura vai obter um dos melhores resultados no campo. De um lado, setores lidam com os impactos negativos gerados pela pandemia do novo coronavírus. Já na outra ponta, o agronegócio terá um ano recorde de receita.
O levantamento foi realizado pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), e indica que o Valor Bruto da produção marcará R$ 728,6 bilhões, ou seja, uma alta de 11,8% em comparação a 2019, além de ser a maior cifra em reais da história do setor.
Agronegócio eleva receita
Mesmo em meio à pandemia de Covid-19, a estimativa é que o PIB do agronegócio passe a responder por 23,6% do total do Brasil. No ano passado, este percentual ficou em 21,4%, explica Renato Conchon, coordenador econômico da CNA, em declaração ao Estadão:
“O dólar alto e os preços firmes das commodities beneficiaram a agricultura.”
Além disso, a entidade prevê que o PIB nacional caia 5,8%, previsão que ainda pode ser revista para um número maior.
“Na crise, ninguém deixa de comer”, ressalta Conchon e, com isso, a desvalorização do real deixou o nicho de exportações mais atraentes para o agricultor. Neste ano, os produtores colheram sua maior safra de grãos, de 250 milhões de toneladas, e a expectativa é de que o desempenho possa se repetir em 2021. Por estarem mais capitalizados, parte dos produtores rurais já iniciou a compra de insumos para o próximo plantio, revela José Carlos Hausknecht, diretor da MB Agro, uma das principais consultorias de agronegócio do país:
“Neste mês de maio, os produtores já travaram o preço de 32% da safra do ano que vem, que ainda nem foi plantada. No passado, na mesma época, apenas 8% da produção tinha sido vendida antecipadamente. Em 2017, esse volume era praticamente zero.”
Soja e milho
No caso da soja e do milho, estes foram os grandes carros-chefes da agricultura neste período, afirma Conchon. O ganho, previsto em R$ 728,6 bilhões, R$ 175 bilhões corresponde à receita com a oleaginosa (aumento de 13% sobre 2019) e R$ 90 bilhões com o milho ((32,9% maior que no ano anterior).
Já a carne bovina vai registrar R$ 139 bilhões da receita, uma queda de 19,5% ante 2019. Sobre isso, Hausknecht, diz que a soja avançará sobre outras “áreas de cultivo no ano que vem”.
Neste cenário, que perderá será a cana-de-açúcar. Dados do CNA revelam que a receita com cana ficará em R$ 47,4 bilhões – estável sobre o ano anterior.
Líderes
O agronegócio se fortalece no Centro-Oeste, onde apresenta maior vitalidade. Um quarto do valor adicionado bruto (receita menos despesas) da agropecuária brasileira está concentrado em 165 municípios do país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entre as principais cidades que fizeram o agronegócio elevar a receita com maior contribuição para o PIB, estão: Sapezal e Sorriso, no Mato Grosso; Rio Verde (GO); e Três Lagoas (MS). Na outra ponta, vem o município de São Desidério, no oeste baiano. Juntas, elas somaram 2,2% do valor adicionado bruto da agropecuária em 2017 (último dado consolidado), afirmou Ênio Fernandes Júnior, engenheiro agrônomo e um dos principais agricultores de Rio Verde:
“Se você for analisar friamente, Rio Verde não tem as melhores condições de solo e clima do Brasil. Os bons resultados no campo refletem o espírito empreendedor dos agricultores da região e dos migrantes que vieram do Sul e Sudeste do País, que investiram muito em pesquisa e no cooperativismo aqui na região.”
Na cidade de Três Lagoas, a pecuária está cedendo cada vez mais espaço aos grãos. É o caso da fazenda Mateberi, administrada por William Costa, em que o plantio do grão está avançando sobre as pastagens, afirma o produtor:
“Pegamos gosto pela soja, que deixa ganho de até R$ 1 mil por hectare e retorna um pasto de alta qualidade.”
Ele diz que o plano é expandir a lavoura na fazenda, que tem 31 anos de tradição em pecuária de corte.
Fonte: O Estado de S. Paulo
*Foto: Divulgação/Ivan Bueno