Amazônia em foco, via gestora, já captou R$ 70 milhões e quer dobrar valor para investir em teses que vão da floresta preservada às cidades da região
Criado a partir de recursos dos fundadores da Natura em 2013, o primeiro fundo de impacto da gestora MOV tem uma boa história para contar, com rentabilidade de 25% ao ano. Agora que está sem segundo fundo, com a Amazônia em foco 100%, a casa conquista uma base de investidores mais diversificada.
Amazônia em foco
Com a Amazônia em foco, já foram captados R$ 70 milhões no primeiro closing; e a ideia é até dobrar esse volume em futuras rodadas. Segundo Paulo Bellotti, um dos sócios da gestora:
“Vamos investir em soluções para o desenvolvimento da bioeconomia, baseada na preservação e regeneração da floresta e com bem-estar social.”
Ele disse ainda que a floresta é estratégica para o mundo e para o Brasil, além de ser uma grande oportunidade para investimentos de impacto social.
Por outro lado, isso não quer dizer que a gestora só vai apostar em empreendedores da região, revela:
“Mas a preocupação é gerar valor na região e dividir os benefícios com as comunidades locais.”
Startups
Contudo, no pipeline em análise há startups amazônidas, porém, também outras com sede em outros locais e que operam na região e algumas que querem passar a atuar na Amazônia, admite o gestor.
É o caso da primeira investida do fundo. A Symbiomics, empresa que pesquisa microrganismos para desenvolver insumos e defensivos biológicos, acaba de fechar uma rodada de R$ 15 milhões. Desse montante, R$ 5 milhões são da MOV, R$ 4 milhões da Baraúna Venture Capital e mais dois investidores não revelados.
Criação da Symbiomics
Criada por dois cientistas da Unicamp, a startup foi acelerada em Florianópolis, onde pretende construir o primeiro laboratório próprio e, até o momento, os produtos em desenvolvimento saíram de fungos e bactérias do Cerrado.
No entanto, em breve, a empresa fará uma expedição para começar pesquisas no bioma amazônico.
A empresa, que possui dois anos, conta com seis linhas de produtos em pesquisa. Sua atividade se concentra no desenvolvimento da tecnologia, que então é patenteada e vendida a um fabricante de bioinsumos que paga royalties para ela.
Além disso, o primeiro contrato já foi fechado, com uma empresa mantida em segredo, e o produto deve entrar no mercado até 2025.
Várias Amazônias
Vale destacar que o objetivo da MOV neste momento é fazer entre 7 e 8 investimentos no fundo, com tíquete inicial de R$ 5 milhões, e guardar espaço no bolso para participar do crescimento daquelas que se mostrarem mais promissoras.
Bellotti diz que a gestora enxerga várias amazônias diferentes para investir:
- a floresta totalmente preservada;
- a floresta em degradação;
- a floresta antropizada (alterada pelo homem) e abandonada;
- e, por fim, as cidades, que concentram a maioria da população.
E para cada uma delas, a startup possui teses diferentes.
No caso da floresta preservada, por exemplo, o foco são produtos florestais não madeireiros e de maior valor agregado, biotecnologia, serviços ambientais e turismo sustentável. Isso porque a Symbiomics se encaixa neste eixo.
Já nas áreas desmatadas ou antropizadas, as oportunidades estão na restauração.
“Uma possibilidade está em sistemas agroflorestais em escala, com plantio de espécies que geram renda para a população local, como cacau, café e macaúba.”
Pecuária sustentável
Em contrapaertida, há também soluções para uma pecuária sustentável e rastreável que estão sendo analisadas.
Nas cidades, um dos focos está na educação para o futuro do trabalho, com a busca de escolas de tecnologia interessadas em explorar o mercado da região. é o que afirma Martin Mitteldorf, também sócio da MOV.
“Muitos trabalhos hoje em dia são remotos, com possibilidade de gerar renda que fica na região, e o mercado para isso é global.”
Conectividade
Por fim, a conectividade, logística e geração e armazenagem de energia também são carências estruturais da região que podem gerar oportunidades, pontua Bellotti. Neste caso, os gestores afirmam que o intuito é atuar como um capital catalítico. Em suma, é poder identificar os ativos, além de ajudar a co-criar essas empresas, e mostrar para o mercado que é possível fazer.
*Foto: Reprodução/Unsplash (Ivars Utināns)