Questão da poluição veicular chegou a fazer associação de fabricantes pedir adiamento para novas regras de controle
No dia 3 de dezembro, grandes empresas automobilísticas receberam uma carta em que são questionadas quanto aos compromissos e os posicionamentos ambientais declarados.
Situação da poluição veicular no país
Tal indagação acontece em razão da tentativa da Associação nacional dos Fabricantes de Veículos Automores (Anfavea) de adiar a adoção de tecnologia de controle de poluição veicular.
Os questionamentos foram enviados pela Coalizão Respirar, constituída por mais de 30 ONGs. Elas atuam em prol da melhoria da qualidade do ar no Brasil.
A Folha de S. Paulo teve acesso às cartas encaminhadas às seguintes empresas:
- Volkswagen;
- Scania;
- Volvo;
- Mercedes-Benz;
- Iveco.
Cartas
Por exemplo, na carta direcionada à Volvo, a Coalizão destaca um trecho do relatório de sustentabilidade da empresa:
“Para o Grupo Volvo, os serviços e a infraestrutura de transporte sustentável devem mover pessoas e bens —promovendo o desenvolvimento social e econômico no presente e no futuro— de forma segura, acessível e eficiente, com redução contínua de emissões e de outros impactos ambientais.”
Portanto, as cartas direcionadas às outras empresas também seguem este caminho, ou seja, o de destacar declarações e compromissos relacionados à sustentabilidade e qualidade do ar.
Compromissos de 2017
Por outro lado, a carta parabeniza a Volvo por compromissos firmados em 2017. Na ocasião, eles enfrentaram alterações climáticas e poluição. Entre as quais: motores livres de fuligem em determinadas cidades, como São Paulo, por exemplo.
Estranhamento
Entretanto, é justamente por tais compromissos firmados em 2017, que a Coalizão estranha as ações da Anfavea, que representa as montadoras citadas. Em um trecho da carta é dito o seguinte:
“Essa entidade […] tem atuado historicamente para postergar os prazos de mudanças de fase dos programas de controle de poluição do ar. Atualmente, busca adiar ainda mais a adoção da fase P-8 do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), que, mesmo já com a tecnologia disponível há anos no mercado internacional, deve ser implementada oficialmente apenas em 2022/2023.”
Posição da Anfavea
Todavia, a Anfavea vem afirmando publicamente que gostaria que o prazo para adoção da nova etapa do Proconve seja postergado. O motivo é decorrente de questões econômicas e de desafios tecnológicos provenientes da pandemia de Covid-19.
Contudo, o Ministério Público Federal (MPF) se posicionou contra o adiamento em texto enviado ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, demonstrando preocupação sobre o assunto. Sendo assim, o documento da procuradoria diz que cada ano de atraso de implementação de novos padrões de controle de emissões pode resultar em 2.500 mortes anuais prematuras.
Porém, a decisão final sobre um possível adiamento virá do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), presidido por Salles.
Importância da adoção dos novos padrões
A carta encaminhada ás empresas automobilísticas afirma ainda que a adoção dos novos padrões “também evitará, até 2050, 155 mil internações hospitalares, o que representaria uma economia de 575 milhões de reais ao sistema de saúde brasileiro”.
E a carta conclui:
“Diante do exposto, estamos certos de que sua organização não compactua com um tratamento diferenciado que prejudique a qualidade do ar nas cidades brasileiras e sua população.”
*Foto: Reprodução