Adoção de carros elétricos por empresas de transporte de aplicativo deve crescer ainda mais, uma vez que há uma forte tendência de queda na intenção de pessoas terem veículos particulares nas próximas décadas
De acordo com um estudo da McKinsey sobre o futuro da mobilidade sustentável no Brasil, até 2040, os carros elétricos devem representar 85% da frota de veículos por aplicativo. Portanto, a adoção de carros elétricos por estas empresas deve se tornar uma tendência. Isso porque este número é quatro vezes maior do que o estimado para os automóveis elétricos de uso pessoal, que devem chegar a 21% da frota no mesmo período.
Adoção de carros elétricos no país
Além disso, a pesquisa aponta também que a adoção de carros elétricos estão alinhados com o modelo de negócio do transporte pela alta rodagem e previsibilidade das áreas de deslocamento. E ainda pela utilização do carro majoritariamente nos centros urbanos, permitindo a otimização do uso em relação aos pontos de recarga.
“Hoje, a economia que o motorista de aplicativo tem com o uso do carro eletrificado chega a 80% em relação ao modelo por combustão, quando analisamos os custos com combustível e manutenção.”
Já para o diretor de Inovação e Líder do DriverLAB na 99, Thiago Hipólito, há agora centro focado principalmente em novas soluções para condutores da companhia. Entretanto, ele afirma que este veículo ainda tem um valor de aquisição muito alto para o motorista.
Descarbonização do setor automotivo
Por outro lado, conforme um estudo de descarbonização do setor automotivo brasileiro, feito em parceria com o Boston Consulting Group (BCG),e a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), é proposto que haja estímulo ao consumo de carros mais “limpos” com medidas como menor tributação, descontos ou isenções em recarga e pedágio, rodízio e financiamentos com métrica ESG (dados ambientais, sociais e de governança das empresas).
Hoje, o setor de transportes representa aproximadamente 13% do total das emissões de CO² do país, revela dados da Anfavea. Sobre isso, vice-presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, explica:
“A indústria automotiva precisa saber como direcionar seus investimentos para as próximas gerações de veículos e para inserir o Brasil nas estratégias globais de motorização com foco total na descarbonização.”
Receitas com veículos elétricos
Segundo o levantamento da McKinsey, a expectativa é de que as receitas com veículos elétricos alcancem US$ 65 bilhões em 2040.
Além disso, deverão ter 11 milhões de automóveis elétricos circulando no Brasil, o que corresponderá a 20% de toda a frota.
Crescimento acelerado da frota hoje
Contudo, dados recentes da Anfavea apontam um crescimento acelerado da frota de elétricos no país. O emplacamento de automóveis elétricos cresceu 43,75% entre janeiro e novembro deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado, de 30,4 mil para 43,7 mil unidades. Já o aumento no emplacamento de caminhões e ônibus elétricos foi de 205% na mesma comparação, e passou de 329 para 1.004 unidades.
Número expressivo também abrange modelos de veículos elétricos e híbridos (que têm tanto motor elétrico quanto a combustão), que deu um salto de 92 novos modelos de janeiro a novembro de 2022 na comparação com o mesmo período de 2021.
Política nacional para a mobilidade elétrica
Mesmo não sendo consolidado no longo prazo, o estudo da McKinsey cita diferentes iniciativas que colaboram com o processo de eletrificação da frota de veículos. Entre elas está o Programa Rota 2030, que pretende expandir a inserção global da indústria automotiva brasileira e possui princípios de sustentabilidade ambiental, e o Programa de Controle de Emissões Veiculares (Proconve).
Para Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o maior desafio que o setor enfrenta é justamente a falta de uma política nacional de mobilidade elétrica. Para ele, o Brasil é o único grande país que não possui uma política para o setor. Ele disse ainda que o Rota 2030 não resolveu todos os gargalos. Além disso, o carro elétrico ainda tem uma tributação maior que o carro a combustão, acrescenta.
Para avançar ainda mais na agenda da descarbonização, a Anfavea defende investimentos de mais de R$ 150 bilhões nos próximos 15 anos em tecnologia e infraestrutura pela cadeia automotiva, pelos produtores de combustíveis e energia e pelo governo.
Aliança pela Mobilidade Sustentável
A partir deste propósito, a 99 lançou em abril deste ano a Aliança pela Mobilidade Sustentável, com a participação de montadoras, empresas de locação e instituições financeiras. O objetivo é pensar soluções para tornar o acesso aos veículos elétricos mais fácil, e também promover a infraestrutura necessária para que os motoristas parceiros rodem em suas viagens.
Entre os parceiros da iniciativa está a BYD, líder mundial na fabricação de veículos elétricos, que teve uma parceria exitosa com a Didi Chuxing (“DiDi”), companhia global da qual a 99 faz parte, em um projeto em Shenzen, na China, para substituição de toda a frota de ônibus urbanos e táxis movidos a combustíveis fósseis por veículos elétricos. Maluf revela que a Aliança pela Mobilidade é importante para ampliar esforços e debates para alavancar a frota de carros elétricos no Brasil.
Meluf explica que Brasil atingiu a marca de 1% da frota composta por carros elétricos e pode seguir o exemplo de outros países que, a partir desse patamar, tiveram forte aceleração da inserção de modelos elétricos na frota. E por conta dessa expectativa, a BYD, que até o momento só focava no Brasil em negócios B2B (quando empresas fazem transações diretamente com outras empresas), vai atender, a partir de 2023, também o motorista individual.
Estações de carregamento
Fomentar a expansão das estações de carregamento está entre as metas da Aliança pela Mobilidade, que visa contribuir com a criação de 10 mil pontos públicos de carregamento em todo o Brasil até 2025. Segundo dados da McKinsey, a previsão é de que o país tenha 12 mil pontos de recarga nos próximos três anos.
Outra parceira da iniciativa, a EZVolt, que está no Brasil desde 2019, possui quase 3 mil usuários ativos e mais de 300 eletropostos próprios e deve inaugurar, ainda neste ano, mais dois hubs de recarga rápida na cidade de São Paulo. Na Aliança pela Mobilidade serão ofertadas tarifas subsidiadas aos motoristas parceiros da 99 nas recargas realizadas nos eletropostos da empresa, assim como acesso gratuito às áreas de convivência que estão sendo implementadas em alguns dos eletropostos.
Custo total de propriedade
Em relação a quem faz uso intenso do carro, como os motoristas de aplicativo, o custo total de propriedade (TCO em inglês) do veículo elétrico deve se tornar correspondente ao do automóvel à combustão muito antes daqueles que usam o carro para fins pessoas, revela pesquisa da McKinsey.
Neste caso, ao considera os carros de entrada, por exemplo, com valores abaixo de R$ 200 mil, essa equivalência deve acontecer já no ano que vem para quem roda mais de 150 quilômetros por dia. Já quem dirige quase 30 quilômetros por dia, a equiparação deve ocorrer em 2030.
Parceria de empresas ligadas ao setor de energia
A Aliança pela Mobilidade conta com parceria de empresas ligadas ao setor de energia (Enel X Way, Raízen, Tupinambá Energia, EzVolt e Zletric), montadoras (CAOA Chery e BYD), locadoras (Movida e Unidas), uma instituição financeira (Banco BV) entre outras.
Entre as ações desempenhadas pela iniciativa em parceria com a Movida, colocou 50 carros elétricos à disposição dos motoristas parceiros da 99 na cidade de São Paulo.
Por fim, veículos da CAOA Chery e da BYD já estão circulando em testes com os motoristas para que possam ser colhidas informações sobre o uso prático desses veículos no transporte por aplicativo.
*Foto: Reprodução