Agronegócio único tira de vez a ideia de que poderia haver dois agros, o pequeno, separado médio e grande, porém, geraria uma polarização no setor
Surgido na década de 1950, o termo agronegócio abrange todas as cadeias produtivas do setor. Isso vai desde a produção primária, formada por pequenos, médios e grandes produtores (familiares ou comerciais), além da indústria, distribuição e serviços.
Agronegócio único
Trata-se de um agronegócio único. Ele pode ser pequeno ou grande, convencional ou orgânico, desde a lavoura até chegar à casa do consumidor, passando por toda indústria de insumos, implementos e processamento de alimentos.
Além disso, o setor tem sido o esteio do impacto econômico do país. O agronegócio representa hoje 27% do PIB, atingindo 50% das exportações e empregar 20% da força de trabalho, no caso 19 milhões de brasileiros. Portanto, a sugestão de que existem dois agros, o pequeno, separado do médio e grande, é retrógrada e visa a criar e estimular a polarização. Segundo a ex-ministra Tereza Cristina “a gestão unificada do Ministério da Agricultura permitiu elevar a régua da agricultura familiar no Brasil”.
Inclusive outras culturas estão ganhando força no Brasil, como a viticultura por exemplo. É o que comenta o especialista em vinhos, Luciano Mestrich Motta.
Equipe de transição
Diante deste cenário, se a equipe de transição dividir o atual ministério da agricultura em tres ministérios separados, criando o ministério da agricultura voltada à produção de commodities e exportação, um segundo ministério da agricultura familiar e alimento saudável, e um terceiro para a pesca. Este últumo, no atual governo, contam com secretarias específicas dentro do Ministério da Agricultura, que significa andar para trás, voltar ao passado.
Contudo, já houve o Ministério do Desenvolvimento Agrário que, posteriormente, foi absorvido com sucesso pelo ministério da agricultura, assim como o ministério da pesca. Somado a tudo isto, observa-se que países desenvolvidos possuem um histórico de centralizar atividades que devem ser trabalhadas em conjunto, como agricultura, pecuária, pesca e meio ambiente.
Por outro lado, temos que ter em mente o que de fato faz sentido: três ministros, várias equipes, milhares de funcionários a mais, trabalhando com ideias e metas divergentes, ou um único ministério, unido e coeso trabalhando em prol do desenvolvimento do setor?
Com a tecnologia e muito trabalho de pesquisa, a integração incentiva o acesso do pequeno produtor a novas técnicas e tecnologias. Além disso, as cooperativas desempenham um papel essecial nesta difusão. Faz a ponte entre o pequeno produtor, levando o necessário financiamento, tecnologia e assistência técnica, enquanto filtram as demandas, levando-as à secretaria dentro do governo.
Classificação das propriedades
Porém, ainda é muito difícil classificar propriedades rurais conforme a gestão e práticas adotadas. Os pesquisadores brasileiros, aliados aos produtores rurais, fazem com que o agro esteja em constante evolução. Propriedades rurais que antes utilizavam o sistema convencional, hoje utilizam plantio direto, controle biológico de pragas, sistemas integrados entre outras técnicas. Desse modo, sempre se encontrará um talhão, onde está se plantando uma nova variedade ou se está experimentando um novo defensivo biológico. E pelo fato do agro ser um setor dinâmico, em constante transformação e renovação, tal divisão cria barreiras e engessa o processo.
Ministério da Agricultura
O Ministério da Agricultura não atua sozinho. É preciso articular com os ministérios da economia, meio ambiente, ciências e tecnologia, logística e infraestrutura. Portanto, é necessário ter um ministério forte, coeso e centralizado para poder conversar com os outros ministérios e assim articular acordos comerciais, orçamento para o Plano Safra, combate ao desmatamento ilegal entre outras demandas.
Por fim, esta polarização não interessa ao agro, existe muita integração entre as áreas e uma área alavanca a outra, afirma Helen Jacintho, engenheira de alimentos e que atua há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental.
*Foto: Reprodução