Recentemente, o óleo de soja subiu 100% no acumulado do ano no indicador calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para o atacado em São Paulo.
Óleo de soja mais caro – entenda
Em suma, este valor compreende os patamares nominais dentro da série histórica. Contudo, a alta dos preços do produto à base de soja foi estimulada por uma demanda aquecida e pela elevação do dólar. Resultado: o consumidor final sente no bolso e o item já é um dos mais caros na inflação.
Além disso, o grão da oleaginosa registra níveis recordes de preço tanto nos portos como no interior do país. Um exemplo dado pelo Cepea é que o grão está cotado em torno de R$ 150 por saca. Ou seja, ele acumula uma alta próxima de 70% neste ano.
De acordo com Carlos Cogo, consultor da Cogo Inteligência em Agronegócio, o movimento é puxado pela demanda por derivados e pelo câmbio:
“A demanda pelo grão por parte da indústria de esmagamento e produção de farelo e óleo no mercado interno. Além da valorização do dólar frente ao real, são fatores que estão levando a essa forte alta dos preços.”
Preço inflacionado para o consumidor
Sendo assim, com o aumento do valor do óleo de soja pago ao produtor, o índice de inflação ao consumidor também foi impactado. Prova disso é que no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o produto acumulou 19% de alta em 2020, até o mês passado. Então, este foi o quarto item da cesta básica com maior valorização dentro do índice.
Sobre isso, Lucílio Alvez, pesquisador do Cepea, afirma:
“Tradicionalmente, sempre há repasse de preços dos elos anteriores para o mercado varejista, isso é importante também a se avaliar. Por outro lado, nós precisamos lembrar que se temos preço da soja em grão em alta é porque temos disposição a pagar vindo das indústrias esmagadoras, cuja receita vem do farelo e do óleo de soja. Não existe preço de soja em alta se os derivados não estiverem com remuneração atrativa.”
Para o produtor
Já para o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz, o produtor não consegue captar inteiramente a valorização do grão, já que o vendeu antecipadamente a um preço mais baixo.
Ligação com o biodiesel
Em contrapartida, André Nassar, presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), considera a demanda por biodiesel um fator que explica o mercado de óleo de soja em 2020, já que o produto é a principal matéria-prima do combustível:
“O que está estimulando o mercado de óleo de soja? é a demanda por biodiesel. Se tudo ocorrer conforme programado no mercado do biodiesel, (passando de b12 para b13, ou seja, 13% de mistura) o processamento de soja deverá aumentar. Isso não seria um problema, apesar de ter uma safra grande e muita demanda internacional por soja nós devemos processar mais soja no ano que vem. O negócio é que se houver problemas no mercado de biodiesel, a situação pode gerar mais atratividade para exportar grãos. Isso levaria a uma redução no processamento ou não crescimento no processamento.”
Dólar
Além disso, a desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar causou competitividade do grão produzido no país, incentivando a exportação de soja. Sendo assim, no acumulado de 2020, até setembro, o Brasil embarcou 79,6 milhões de toneladas do grão. Resultado: um índice 30,9% maior em comparação ao mesmo período do ano passado. só a china, principal comprador do produto, respondeu por mais de 70% das aquisições.
Estoques
Por outro lado, Cogo sinaliza que os estoques de passagem estão muito baixos no país:
“As importações de soja vem crescendo, os estoques de passagem vão ser muito baixos. E já começa a haver preocupação de que possa ter escassez e até falta de mercadoria para esmagar e farelo de soja em algumas regiões do país.”
Entretanto, Nassar não visualiza um risco de desabastecimento, já que o “mercado de biodiesel está sendo bem ajustado”.
Taxa de câmbio
Por fim, Lucílio Alves prevê que o futuro dos preços do grão e do óleo de soja dependerá, principalmente, da taxa de câmbio:
“Se os preços internacionais e brasileiros estão em linha, nem precisamos avaliar o que está acontecendo em termos de negociações. Tanto para 2021, quanto para 2022, efetivamente. Os dados apontam que os negócios de exportação e, na verdade, os preços FOB exportação baseado em Paranaguá estão de 12% a 13% menores em 2020 no primeiro semestre comparativamente aos parâmetros atuais. Só que esses são diferenciais de preços em dólares. E o que a gente pode esperar em termos de câmbio para 2021? Acho que essa é a grande incógnita. Se o câmbio está dando sustentação para os preços em 2020, não sabemos quais serão os parâmetros para 2021. E se essas menores negociações ou negociações a preços menores para 2021 efetivamente vão se transformar também em termos reais. O câmbio não temos muito controle sobre ele.”
*Foto: Divulgação