Pecuária sustentável evidencia que o bioma vem sendo afetado pelo avanço exagerado da agricultura, descaracterizando a vegetação nativa
O bioma Pampa, localizado no sul do Brasil, tem mais áreas antropizadas, ou seja, alteradas pela ação humana, do que de vegetação nativa. Essa é a conclusão de um novo mapeamento sobre uso e ocupação de solo da região, cobrindo os últimos 37 anos, realizado pelo MapBiomas. A iniciativa é multi-institucional que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais.
Pecuária sustentável em risco
Além disso, a pecuária sustentável corre risco, uma vez que há um “avaço exagerado da agricultura, especialmente da soja, sobre as áreas de vegetação campestre deve servir de alerta sobre qual será o futuro do bioma”, alerta Heinrich Hasenack, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Ele disse ainda que a pecuária mais sustentável está sendo deixada de lado. Mas, trata-se de uma vocação natural do bioma que possibilita produzir e ao mesmo tempo comservar a natureza, “apostando tudo em commodities, como a soja e a silvicultura”.
Contudo, vale lembrar que em 1985, as áreas de vegetação nativa ocupavam 61,3% do Pampa. Em 2021, essa participação foi de 43,2% – quase o mesmo das áreas de agricultura, que já ocupam 41,6% do bioma. Houve uma perda de 29,5% de vegetação nativa entre 1985 e 2021, sendo acentuada nas últimas duas décadas.
Vale lembrar que em dezembro de 2019, o Brasil firmou um acordo com a Alemanha para um desenvolvimento sustentável da atividade pecuarista.
Sustentabilidade ambiental no Pampa
Composto por diferentes tipos de campos, o bioma que teve um decréscimo de 3,4 milhões de hectares – correspondente a 70 vezes a área do município de Porto Alegre – e viu o crescente avanço da agricultura resultar em perda das formações campestres, a vegetação nativa típica do bioma e tradicionalmente usada para a pecuária. Em 1985, as formações campestres ocupavam 48,6% do território. Já em 2021, eram apenas 30,9%.
Silvicultura – qual seu papel?
A silvicultura ocupa hoje 3,8% do bioma e foi a cobertura com maior proporção de crescimento no período de 1985 a 2021 – o aumento foi de 1.641%. Ainda que seja encontrada em todo o Pampa, a silvicultura acontece de modo muito concentrado na região centro-leste do bioma. Os cinco municípios que mais tiveram avanço com a silvicultura nos últimos 37 anos foram Encruzilhada do Sul, Piratini, Canguçu, Dom Feliciano e Butiá.
Já as transformações no uso da terra do Pampa vêm sendo muito expressivas em uma única direção. E isso preocupa muito uma vez que não apontam para um caminho de sustentabilidade ambiental, conclui Hasenack.
“Deveríamos implementar políticas públicas de promoção da pecuária, de diversificação da produção nas áreas rurais, de estímulo ao turismo rural e de cuidados com o patrimônio natural do Pampa, como a criação de novas unidades de conservação.”
*Foto: Reprodução